Roberto Paveck: O que 2025 reserva para o setor portuário latino-americano?

Roberto Paveck é  economista e acadêmico, especialista em inovação e gestão portuária, além de ser colunista do PortalPortuario


Entender os rumos do setor portuário em 2025 exige observar três fatores-chave que estão influenciando a América Latina ainda em 2024: a reeleição de Donald Trump nos EUA, o fortalecimento da presença econômica da China na região e os avanços nas negociações entre o Mercosul e a União Europeia. Esses eventos entrelaçados têm o potencial de transformar a dinâmica do comércio exterior, criando desafios e novas oportunidades para a região.

A reeleição de Trump pode marcar um ponto de inflexão nas relações comerciais entre os Estados Unidos e a América Latina. Por um lado, espera-se uma maior presença econômica dos EUA na região, com novos investimentos e intensificação da concorrência com a China. Por outro, a possível elevação das tarifas de importação levanta preocupações, especialmente sobre a competitividade dos produtos agrícolas. Isso pode levar exportadores latino-americanos a dependerem cada vez mais de alternativas mais econômicas para escoar suas mercadorias. Nesse cenário, os portos mais eficientes tendem a ganhar destaque.

A China, por sua vez, segue expandindo sua influência na América Latina. O comércio bilateral, que era de USD 18 bilhões em 2002, saltou para USD 450 bilhões em 2022. Embora os Estados Unidos ainda liderem como maior parceiro comercial, a China já ultrapassa os norte-americanos em vários países da América do Sul. Um exemplo claro desse posicionamento é o Porto de Chancay, no Peru, que, com investimentos de US$ 3,6 bilhões, se posiciona como um hub logístico estratégico para o comércio com a Ásia, reduzindo em até um terço o tempo de transporte para os mercados asiáticos em relação aos portos do Atlântico.

Além disso, o anúncio da conclusão do acordo comercial entre o Mercosul e a União Europeia, após 25 anos de negociações, promete abrir novas oportunidades comerciais. Apesar da resistência de alguns países, como a França, o tratado, se adotado, permitirá aos países fundadores do Mercosul (Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai) ampliar sua presença no mercado europeu com produtos como carne, açúcar e soja. Em contrapartida, a União Europeia terá maior facilidade para exportar produtos industrializados. Para os portos do Mercosul, isso exigirá investimentos em modernização, práticas mais sustentáveis e adaptação a normas ambientais mais rigorosas.

Esses movimentos colocam a América Latina no centro de uma disputa estratégica entre gigantes econômicos, criando diversas oportunidades para a região. Em 2024, dois acontecimentos reforçam esse momento: No Brasil, a francesa CMA-CGM adquiriu a fatia de 48% Santos Brasil, operadora do maior terminal de contêineres do país, enquanto a MSC adquiriu a maior parte das ações da Wilson Sons. Olhando para 2025, a concorrência promete se intensificar com a realização de 22 leilões de terminais no país, previstos para atrair investimentos de cerca de USD 1,5 bilhão.

Todo esse contexto faz de 2025 um ano repleto de oportunidades para o setor portuário. A América Latina, talvez como nunca, terá diante de si a chance de se reposicionar no comércio global e consolidar sua relevância no cenário competitivo mundial. Para que isso se torne realidade, será essencial investir na capacidade de adaptação, fortalecer a colaboração entre os diversos atores da cadeia logística e manter um compromisso constante com a inovação. Desejo a todos um Feliz Natal e um Próspero Ano Novo, repleto de conquistas e avanços para o setor portuário latino-americano!


 

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